Há algum tempo, sentada na minha sala, Maridinho ao lado com a sua pilha de livros, comecei a fazer uma wish list para ter uma sala nova. As mulheres – principalmente as da minha “categoria”, que não trabalham e ficam bastante em casa – têm essa tendência em querer renovar, trocar, redecorar, achar que as coisas estão velhas, fora de moda, ou simplesmente cansam e querem trocar tudo.
A minha lista incluía um sofá, dois tapetes, três poltronas, uma mesa de centro, muitas almofadas e até uma escultura!
Maridinho conhece bem a minha categoria e também tem a dele. É o tipo do marido que “ouve” os meus delírios, solta um “aham” e retoma a sua tão importante leitura.
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Há menos tempo, eu fiquei doente. Não foi pouco, foi muito doente, de uma maneira que me derrubou por quase uma semana. Tive milhares de sintomas, o pior foi a garganta mesmo. Só não deixei de comer, ou seja, não foi o fundo do poço. O dia em que eu parar de comer, favor internar.
Quando completei 5 dias de doença , em uma sexta feira (treze?), comecei a me sentir melhor e mais disposta já na hora em que acordei. Dá um aliviozinho, uma alegriazinha amanhecer bem na sexta feira e pensar em um fim de semana com temperatura agradável e milhares de programas combinados. No entanto, Joaquim não apresentou temperatura agradável: febre. Ou melhor, febrão! Ficou caidaço, inapetente (moleque guloso como ele chegou a ficar 48 horas sem comer!), queixava-se de todos os tipos de dores, principalmente na garganta. Mamãezinha aqui passou os bichos para o filhote, podem concluir.
A evolução da doença muitos de vocês já devem conhecer. Teve líquido à vontade, porém bastante antitérmico, spray para a garganta e até visitinha ao pronto-socorro no sábado à noite. Conseguimos escapar do antibiótico, e fico na dúvida se comemoro ou não, pois apesar de tudo, a melhora com o antibiótico é sempre bem mais rápida.
Só que o menino Joaquim tem uma peculiaridade. No auge da febre, da inapetência e do estado “borocoxô”, perguntei:
- Filho, fala para a Mamãe, pede qualquer coisa do mundo e eu te dou, me diz, o que você quer??
O enfermo me pede:
- Remédio!!!
Mas a peculiaridade nem era isso aí, essa fala tá na tag “pérolas na doença”. A peculiaridade é que o Joaquim é um menino bastante “vomitento”. Não precisa de muito e o cara já vomita. Nessa amigdalite, o primeiro vômito aconteceu de sexta para sábado, precisamente às 2 da manhã e tingiu um edredon novo, lindo, caro e branquíssimo. Enquanto o pai trocava e limpava a criança vomitada, visitei o tanque, na companhia da escova e do sabão. Apesar do estado zumbi, agi com o maior cuidado, afinal tratava-se da limpeza de quase uma jóia.
Domingo de manhã, o cara lá jogado no sofá, cobertinho, febre bombando, até que vê um restinho de leite e resolve tomar. Quarenta e oito horas sem comer, quem é que ia impedi-lo de tomar o restinho do leite? Naquela situação, teria deixado até tomar os restinhos de vinho da noite anterior, ainda nas taças e já na pia. E bastou o golinho, gente, o golinho fatal: Joaquim vomitou o gole e tudo o mais que não comia há 48 horas! Lavou e tingiu o sofá, as almofadas, o tapete e a mantinha.
Menino cuidado, banho tomado, limpinho e eu passei o resto da manhã me dedicando ao tanque e a toda a imundície de um golinho de leite.
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Agora tenho me dedicado muito, muito ao meu filho, que já está melhorando e estará zero bala em breve. Preciso me esforçar e espantar esse vírus de uma vez por todas, de mim e dele, pois precisarei ir às compras. Garanti o sofá e o tapete da wish list, acreditam?
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Observação: artefatos de tecido, quando atingidos por jatos de vômito, adquirem aroma peculiar e específico, podendo atingir o DNA do tal artefato. A contaminação do DNA depende, basicamente, do tipo e qualidade da lavagem aplicada. Essa situação, aroma real e comprometimento do DNA, relaciona-se diretamente ao intervalo de tempo entre o jato e a lavagem. Outro fenômeno bastante comum é o aroma peculiar e específico no modo psicológico. Assim, quem presenciou o jato e quem aplicou a lavagem do artefato é capaz de sentir o aroma eternamente. Portanto, renovar é preciso, aponta estudo.